A Bienal do Livro de Contagem, prevista para acontecer entre esta sexta-feira (8) e domingo (10), com atrações de renome no universo literário – entre elas as escritoras Conceição Evaristo e Scholastique Mukasonga –, está interditada pelo Corpo de Bombeiros. Uma nova vistoria está marcada para o início da tarde desta sexta e, mesmo que autorizada a realização do evento, toda a programação prevista para parte do dia poderá estar perdida. Por sua vez, se o embargo continuar, o prejuízo à organização da bienal, criada por entidades privadas com parceria da Prefeitura de Contagem, pode chegar a R$ 300 mil.
Os responsáveis pela curadoria e organização da Bienal do Livro publicaram em suas redes sociais uma nota para esclarecer o que teria ocasionado a interdição. De acordo com eles, há uma semana e meia, o curador, Rafael Mansur, foi convocado para uma reunião emergencial com toda a equipe responsável pelo evento, mas sem a presença de membros do Corpo de Bombeiros.
"Fui avisado por pessoas da Secretaria de Cultura, Esporte e Juventude, que trabalha conosco na bienal, a respeito da reunião. Chegando lá, encontrei representantes da Guarda Municipal, da Defesa Civil, da Polícia Militar... Só não tinha do Corpo de Bombeiros. O pessoal lá na reunião me disse que eu não precisaria submeter o projeto aos bombeiros. Independente da afirmação deles, eu deveria ter ido atrás disso. Mas como falaram que não precisava, não fui", explica Mansur.
No entanto, segundo ele, na terça-feira (5), o Corpo de Bombeiros procurou a organização do evento para solicitar algumas modificações, com vistas a garantir a segurança dos visitantes da bienal. "Nós nos dividimos com a Prefeitura de Contagem para fazer as alterações solicitadas. Uma delas é que a gente instalasse um corrimão em uma tenda da prefeitura que já existe na Praça da Jabuticaba há sete meses e funciona como palco de eventos a cada 15 dias. Bom, eles pediram, nós tivemos que construir. A prefeitura ficou com outras questões mais específicas, como os banheiros químicos e ambulância. Eles conseguiram tudo, mas com muito atraso. Os banheiros tinham que ter chegado hoje (sexta-feira) às 7h, mas chegaram às 9h".
Assim, um militar do Corpo de Bombeiros vistoriou o evento na manhã desta sexta-feira e decidiu pelo embargo, uma vez que outras modificações deveriam ter sido feitas, segundo ele. Toda a programação da manhã do evento, principalmente voltada para escolas, precisou ser cancelada.
"O tenente me disse que, por exemplo, se alguma criança ou alguém se escondesse embaixo de uma das partes da estrutura, que é inclusive da prefeitura, eu ia ser detido. Nós tínhamos escolas agendadas e uma equipe treinada para recebê-las e cuidar das crianças. Tivemos, enfim, que cortar todas as áreas de acesso, não conseguimos realizar as atividades", comenta Mansur.
De acordo com o curador, as modificações solicitadas nesta manhã já estão quase finalizadas e, agora, organização aguarda uma nova vistoria do Corpo de Bombeiros para decidir se o evento acontecerá ou não.
"Já estamos com as alterações quase prontas. Mas já tomamos muito prejuízo com o cancelamento das atrações previstas. Se for autorizada, a primeira palestra será apenas no fim da tarde com a Anielle Franco, irmã da Marielle – vereadora carioca executada no ano passado. Muitas atrações vieram até aqui e precisaram ir embora, não sabemos se conseguiremos encaixá-las no resto da programação, estamos sem verba. Não sabemos o que falar para a Scholastique, ela é uma escritora, sobrevivente do genocídio de Ruanda, mora na França e é a sua primeira vez em Minas Gerais", desabafa.
Veja o que diz a prefeitura
Procurada pela reportagem de O TEMPO, a Prefeitura de Contagem garantiu que atendeu todas as medidas necessárias para realização do evento – entre elas a liberação da praça, a instalação de banheiros químicos e a presença de uma ambulância e profissionais de saúde.
Além disso, o órgão municipal detalhou que "se orgulha pela cidade sediar a III Bienal do livro, evento de reconhecida relevância". Quanto os pedidos de alterações na estrutura, a prefeitura explicou que "na última quarta-feira, 6 de novembro de 2019, o Corpo de Bombeiros também solicitou série de providências à organização do evento, que não foram atendidas".
Veja o que diz o Corpo de Bombeiros
À reportagem de O TEMPO, a corporação apontou que "as informações técnicas sobre o evento, enviadas pelos organizadores, e a realidade do local não estavam compatíveis". Os bombeiros explicam que a estrutura do evento se apresentava com uma classificação de risco superior e "exige a implementação de medidas de segurança contra incêndio e pânico para adequá-la à legislação vigente".
Comments